Poema Perdão!

Choraste?! – E a face mimosa
Perdeu as cores da rosa
E o seio todo tremeu?!
Choraste, pomba adorada?
E a lágrima cristalina
Banhou-te a face divina
E a bela fronte inspirada
Pálida e triste pendeu?!

Choraste?! – E longe não pude
Sorver-te a lágrima pura
Que banhou-te a formosura!
Ouvir-te a voz de alaúde
A lamentar-se sentida!
Humilde cair-te aos pés,
Oferecer-te esta vida
No sacrifício mais santo,
Para poupar esse pranto
Que te rolou sobre a tez!

Choraste?! – De envergonhada,
No teu pudor ofendida,
Porque minh’alma atrevida
No seu palácio de fada,
– No sonhar da fantasia –
Ardeu em loucos desejos,
Ousou cobrir-te de beijos
E quis manchar-te na orgia!

Perdão p’r’o pobre demente
Culpado, sim, – inocente –
Que se te amou, foi demais!
Perdão p’ra mim que não pude
Calar a voz do alaúde,
Nem comprimir os meus ais!

Perdão oh! flor dos amores,
Se quis manchar-te os verdores,
Se quis tirar-te do hastil!
– Na voz que a paixão resume
Tentei sorver-te o perfume…
E fui covarde e fui vil!…

Eu sei, devera sozinho
Sofrer comigo o tormento
E na dor do pensamento
Devorar essa agonia!
– Devera, sedento algoz,
Em vez de sonhos felizes,
Cortar no peito as raízes
Desse amor, e tão descrido
Dos hinos matar-lhe a voz!

– Devera, pobre fingido,
Tendo n’alma atroz desgosto,
Mostrar sorrisos no rosto,
Em vez de mágoas – prazer,
E mudo e triste e penando,
Como um perdido te amando,
Sentir, calar-me e – morrer!

Não pude! – A mente fervia,
O coração trasbordava,
Interna voz me falava,
E louco ouvindo a harmonia
Que a alma continha em si,
Soltei na febre o meu canto
E do delírio no pranto
Morri de amores – por ti!

Perdão! se fui desvairado
Manchar-te a flor d’inocência
E do meu canto n’ardência
Ferir-te no coração!

– Será enorme o pecado,
Mas tremenda a expiação
Se me deres por sentença
Da tua alma a indiferença,
Do teu lábio a maldição!…

Perdão, senhora!… Perdão!…

Casimiro de Abreu

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