Poema Última folha

Meu Deus! Meu Pai! Se o filho da desgraça
Tem jus um dia ao galardão remoto,
Ouve estas preces e me cumpre o voto
– A mim que bebo do absinto a taça!

“- Feliz serás se como eu sofreres,
“Dar-te-ei o céu em recompensa ao pranto”-
Vós o dissestes – eu padeço tanto!…
Que novos transes preparar me queres?

Tudo me roubam meus cruéis tiranos:
Amor, família, f’licidade, tudo!…
Palmas da glória, meus lauréis do estudo,
Fogo do gênio, aspiração dos anos!

Mas o teu filho já se não rebela
Por tal castigo, pelas mágoas duras;
– Minh’alma of’reço às provações futuras…
Venha o martírio… mas – perdão para ela!…

A doce virgem se assemelha às flores…
O vento a quebra no seu verde ninho,
– Velai ao menos pelo pobre anjinho.
– Pagai-lhe em gozo o que me dais em dores!

Casimiro de Abreu

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