Alguns dias na vida de todos nós se mostram verdadeiramente desafiadores.
Por mais tranquila que a vida siga seu curso, é natural surgir esse ou aquele desafio maior a nos exigir o esforço da fé e a coragem do enfrentamento lúcido.
Inesperadamente, a saúde do corpo físico, que se mostrava sólida e inabalável, vê-se minada pelo diagnóstico de grave moléstia, exigindo longo e doloroso tratamento.
A outrora relação familiar, harmônica e fraternal, é surpreendida pela visita da morte, a alcançar o ente querido, que sintetizava a estrutura emocional e a referência afetiva de tantos.
A amizade cultivada desde há muito, na intimidade do coração, que a guardava qual joia em cofre valioso, vê-se violentada pela mesquinhez e traição, acompanhadas pela covardia e indiferença.
Outras vezes, a vida, que nos parecia tão rica e cheia de significados, nos elege para a solidão, impedindo a companhia de afetos ou o encontrar de alguém para ombrear e caminhar conosco nos dias mais difíceis.
De outra feita, a calúnia nos visita os dias antes tranquilos, tecendo histórias e tramas que não nos pertencem, replicadas por bocas levianas e insensatas, magoando-nos a sensibilidade pela injúria e difamação.
Todas essas são as cruzes de provação de nossa caminhada. Todos nós, no mundo, carregamos o madeiro pesado das aflições e dificuldades, muitas vezes no silêncio da intimidade, e no desconhecimento aos olhos do mundo.
A dor na Terra ainda é processo depurador de mil delitos que não foram justiçados e de vícios alarmantes que permaneceram ocultos.
Assim, a misericórdia de Deus nos possibilita recuperarmo-nos dos delitos de outrora, depurando, pelo sofrimento, as dificuldades por nós mesmos plantadas.
Será no padecimento que reconsideraremos atitudes, reprogramaremos atividades e nos alçaremos efetivamente para o bem.
Portanto, perante a dor e a dificuldade, evitemos o desânimo ou a revolta.
Lembremo-nos de que o adágio popular ganha razão quando diz que Deus dá a cruz conforme a capacidade de nossos ombros.
Jamais desdigamos as provações que nos cheguem, convidando à renovação e à reestruturação de nossa intimidade.
Antes, façamos dessas dores nosso instrumento de redenção e ressarcimento dos débitos de antes.
Desse modo, ao nos sentirmos atados às cruzes das provações dolorosas, adornemo-nos com as flores do amor fraternal, transformando as dores de hoje na esperança em relação aos dias vindouros.
Com resignação dinâmica, conseguiremos superar os dias mais graves, tendo sempre em mente que, dos braços da cruz em que nos encontramos atados, conseguiremos alçar mais rapidamente às elevadas esferas da libertação.