Conto de Páscoa

Conto de Páscoa

Sentado na beira da calçada, com um ovo de chocolate pequenino nas mãos, olhar sério, aquele menino se pôs a imaginar. Havia muitas coisas que ele não entendia, por mais que tentasse.
Durante a semana toda, na escola, na rua, em casa, em todos os lugares só se ouvia falar de Páscoa, coelhinho e ovos de chocolate. A professora até colocou Jesus no meio da história, mas só aumentou a sua confusão. Ele não conseguia organizar o pensamento. Jesus não é aquele que nasceu no Natal? Faz tão pouquinho tempo, e ele já morreu?!
Não, decididamente ele não entendia nada. Não sabia exatamente o que uma coisa tinha a ver com a outra. Afinal de contas, por que comemorar, se Jesus morreu? Por que os ovos são de chocolate? E o coelho, o que ele faz nessa história? Complicado! Separava somente as coisas que entendia, e sabia o que era…
Entendia que estava esperando ganhar um ovo bem grande, daqueles que tinha visto na televisão, embrulhado num papel brilhante e com um laço de fita vermelha, que não veio, e ele sabia por quê: o dinheiro não deu.
Ele sabia. Nem seu pai e nem sua mãe tinham prometido dar-lhe um ovo de Páscoa. E ele sabia, também, que o coelhinho não o trazia para ninguém. Então, como é que ele poderia satisfazer a sua vontade de comer chocolate? Como ia passar o domingo de Páscoa sem comer ovo de Páscoa? E a ideia veio assim, de repente! Por que não?
Foi até o primeiro semáforo daquela movimentada avenida e, quando o sinal ficava vermelho ele se lançava entre os carros e ia pedindo:
“Moço, dá um ovo de Páscoa pra mim?”
“Senhor, poderia me dar um ovo de Páscoa?”
“Moça, dá um ovo de chocolate pra mim?”
Assim, ia pedindo e ouvindo as mais esfarrapadas respostas, quando alguém respondia. Até que, enfim, parou um carro velho, todo manchado de ferrugem. Dentro, um homem com cara de bravo… Ele tomou coragem, foi até lá e arriscou o mesmo pedido:
“Moço, eu quero um ovo de Páscoa”.
E qual não foi sua surpresa quando aquele homem pegou, no banco do passageiro, um embrulhinho e lhe estendeu pelo vidro.
“Obrigado, moço!”
E saiu em disparada.
De volta à sua calçada, ele olhou o ovinho e sorriu feliz. Afinal, agora ele comemoraria a Páscoa!

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