A amizade esse fenômeno instigante

Ah, esse fenômeno instigante,
o das amizades que se mantêm
independentes da convivência.

Será amizade? Será saudade
comum dos anos vividos em amizade?
Será saudade dos anos felizes
ou uma afinidade
que se espraia no tempo?
Não sei responder.
Sei que com algumas pessoas
(poucas),
há uma insistência teimosa
em desejar ver,
trocar ideias e experiências,
creio, pela certeza da
reciprocidade e do “ser aceito”.

Sim, talvez seja a certeza
de ser aceito,
uma das maiores necessidades
humanas neste mundo
de incompreensões.
Talvez seja a necessidade
da existência de certeza
prévia de acolhimento ao que somos,
como somos e ao que pensamos,
o fermento da amizade.

O mistério da amizade
talvez resida no alívio
que traz a existência
de alguém que nos acolha.

Digo acolha e, não, recolha
aí já seria dependência de
um lado e paternalismo do outro.

Acolher significa receber
de bom grado, previamente,
sem julgamentos ou resistências.
É molesto o fato de que os
seres humanos
vivam a julgar e que
suas opiniões prévias
interponham
barreiras na comunicação,
dificultando-a.

O mistério da afinidade
consiste na inexistência
das resistências ao outro,
mesmo quando haja discordância.
Isso não deriva apenas de afeto.
Quantas vezes há afeto
entre as pessoas sem, porém,
a aceitação natural,
espontânea e prévia?

Verifique nas amizades
tidas e vividas ao logo da vida,
o que delas restou.
Haverá muita vivência,
boa e má.
Raramente, porém,
restará a amizade…

Com os anos, vão se
tornando escassas as amizades
que atravessaram o
terreno íntimo que lhes é próprio
sem arranhões e sem mágoas,
restando, como fruto,
após ingentes experiências
humanas e existenciais,
apenas (e já é tanto…)
a amizade.

Amizade é o que resta da amizade.
Se o que resta de uma amizade
é amizade, então amizade é.
Da verdadeira!

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