Os ingredientes da felicidade

Há 54 anos atrás, William D. Ogden escreveu uma coluna para o New
York Tirnes a respeito da arte da felicidade. O texto foi publicado na
edição de 30 de dezembro de 1945. Aqui estão algumas passagens que, pela
sabedoria, mostram como isso poderia ter sido escrito na semana passada:

“Hoje existe uma condição curiosa no mundo. Jamais houve uma época em que tanto esforço oficial fosse feito para produzir felicidade, e também
uma época em que o indivíduo prestasse tão pouca atenção para criar as
qualidades pessoais que contribuem com ela…

O que está sendo mais desprezado nos dias atuais é a determinação
pessoal de desenvolver um caráter que, por si mesmo, dadas as condições
razoáveis, contribua para a felicidade. Toda nossa ênfase recai sobre a
reforma das condições de vida, de melhores salários, ou controles sobre a
estrutura econômica, casa própria para mais gente ? sempre com o enfoque nogoverno ? e muito pouco para que as próprias pessoas possam se aperfeiçoar como seres humanos.

Os ingredientes da felicidade são tão simples que podem ser contados
nos dedos da mão. Antes de mais nada, a felicidade deve ser compartilhada.
O egoísmo é seu inimigo. fazer feliz a outra pessoa é fazer feliz a si
mesmo. A felicidade é silenciosa. Raras vezes nos encontramos com ela em
grandes aglomerações. Pode-se obtê-la com mais facilidade em momentos de solidão e reflexão.

Ela vem de dentro, e descansa com mais segurança na
bondade simples e uma clara consciência. A religião pode não ser essencial
para consegui-la, mas não se sabe de ninguém que a tenha alcançado sem umafilosofia baseada em princípios éticos.

Não pode ser comprada. Na verdade, o dinheiro, por estranho que
pareça, pouco tem a ver com ela. Foi Thomas Kempis quem disse, sabiamente, que ‘uma competência modesta é o suficiente’.

As pessoas não são felizes a menos que estejam razoavelmente
satisfeitas consigo próprias, de modo que a busca da tranqüilidade deve
começar necessariamente por um exame de consciência. Muitas vezes não
ficaremos felizes com o que encontrarmos nessa busca. Temos tanto para
fazer, e tão pouco feito! Mesmo assim, desta severa auto-análise depende a
descoberta das qualidades que tornam únicas todas as pessoas, e cujo
desenvolvimento é a única forma de ser feliz.

De todos aqueles que tentaram nestes anos criar um sistema para se
obter a felicidade, poucos tiveram tanto êxito quanto William Henry
Channing, um padre que era o capelão do Senado americano na metade do
século passado. Ele explicava sua filosofia desta maneira:
‘Viver contente com poucos meios. Buscar a elegância mais do que o
luxo, e o refinamento mais do que a moda. Ser merecedor de respeito em vez
de respeitável, e ter dinheiro em vez de ser rico. Estudar com força,
pensar em silêncio, falar com suavidade, atuar com franqueza, escutar as
estrelas e os pássaros, criaturas e sábios.

Suportar com alegria, fazer tudo com valentia, esperar a ocasião, nunca apressar-se. Em uma palavra, deixar que o espiritual, o instinto e o espontâneo se desenvolvam de forma normal. Esta é minha sinfonia.'”
“Devemos advertir”, conclui Ogden, “que nenhum governo pode fazer
isso por você. Você mesmo tem de fazê-lo”.

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