Que saudades

Ando com saudades de café com pão. De namorados dando beijinhos no portão. De pedir bênção a pai e mãe.
(Deus te abençoe!) De ver um varal cheio de roupa,
com cheiro apenas de sabão. De ver alguém sorrindo enquanto, lava a louça com bucha vegetal.

De sentir respeito pela polícia. De cantar o Hino Nacional, com mão no peito e lágrimas nos olhos. De acreditar que o Brasil ganhou a Copa do Mundo porque jogou direito.
De saber que o Zezinho, filho do porteiro, não vai morrer de dengue. E que Maria feirante poderá ter um filho médico.

Saudades de homens que usavam apenas o assobio como galanteio. Fiu-fiu! Morro de saudades do tempo em que o presidente de uma nação era o mais respeitado cidadão do país. Que cadeia era lugar só de ladrão. Acho que andaram invertendo a situação. Ando com saudades de galinha de galinheiro. De macarrão feito em casa, com tempero sem agrotóxico. De só poder tomar guaraná em dia de festa. De homens de gravatas. De novela com final feliz. De pipoca doce de pipoqueiro.

De dar bom-dia à vizinha.

De ouvir alguém dizer obrigado ao motorista e ele frear devagarzinho, preocupado com o passageiro. Saudades de gritar que a porta está aberta para os que chegam. Saudades do tempo em que educação não era confundida com autenticidade.

Hoje, se fala o que quer em nome de uma “tal” verdade e pedir perdão virou raridade. Ando com saudades de ver no céu pipas não atingidas pelo efeito estufa. Saudades das chuvas sem acidez, que não causavam aridez.
Saudades de poder viajar sem medo de homem-bomba.

De ser recebida com pompa em outra nação. Atualmente, reina a desconfiança no coração. Sinto muitas saudades do rubor das faces de minha mãe, quando se falava de sexo. Totalmente sem nexo Hoje, ele é tão banal que até eu banalizei.

Acho que a maior saudade que tenho é a saudade de tudo que acreditei. Para meus filhos não poderei deixar sequer a esperança. Hoje, já não se nasce criança!

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