Você diz: eu te amo

Sou professora de inglês e meus alunos são adultos, a grande maioria executivos.

Dou aula de estrutura gramatical e normalmente não dou aulas de conversação, porque não gosto.

Hoje cedo, por total falta de opção, tive que substituir uma professora de conversação dando aula para um grupo de 5 pessoas (4 homens e uma mulher) de nível avançado.

Uma das ferramentas que os professores de conversação usam para estimular a classe são umas cartas com perguntas em inglês. Essas perguntas vão desde coisas básicas do tipo quantas vezes ao dia você escova os dentes, até coisas mais complexas como você faz algum trabalho assistencial? Se sim porque sim, se não porque não.

De última hora resolvi usar as cartas na aula.

Cada aluno tira uma carta e pode responder ou passar e aquele que responde deve usar o melhor do seu vocabulário, a forma mais complexa de responder.

Faltavam 15 minutos para o fim da aula quando um aluno, o mais velho da turma ( o mais introspectivo) tirou a carta. How often do you say I love you? (Com que frequência você diz eu te amo?).

A classe riu meio nervosa e o aluno que tirou a carta disse que passava. O próximo já complicou porque ele dizia que era diferente a frequência que ele dizia a frase para família ou para outras pessoas, mas disse que o fazia com certa frequência. O outro homem do grupo disse que não dizia muito, principalmente para as namoradas, porque segundo ele, as mulheres ouvem essa frase e levam ao pé da letra, entendendo que esse amor deva ser eterno.

Ai a moça da sala contestou e a conversa foi animada, até que o único aluno homem que não havia se manifestado disse que nos contaria uma história verdadeira:

“A mãe dele era uma pessoa muito alegre, cheia de energia e muito positiva. Adorava a vida e dizia a todos que os amava. Amigos, filhos, empregados, todos. O pai ao contrário era extremamente reservado e não era dado a muitas manifestações de afeto o que provocava nos filhos uma certa surpresa ao ver que os pais se entendiam tão bem apesar dessa diferença. Um dia, já adulto, conversando com a mãe que fazia um balanço da própria vida ele perguntou se ela havia sido sempre feliz, e ela disse que sim.

Ai ele perguntou o que ela gostaria de ter na vida que não houvesse conseguido e para enorme espanto dele ela disse que seria ouvir do marido que ele a amava. A mãe argumentou que tinha certeza do amor do marido, que era extremamente feliz com ele mas que ela nunca havia ouvido dele essas palavrinhas mágicas e que por mais absurdo que pudesse parecer era tudo o que ela mais queria na vida ! Mesmo que parecesse algo imaturo, algo infantil era o que ela mais queria.

Alguns meses depois era aniversário de casamento dos pais. 25 anos de casados que seriam comemorados com uma grande festa. Uns dias antes da festa ele saiu com o pai pra comprar um presente para a mãe. O pai, no carro, disse que gostaria de dar a ela algo que significasse muito porque ela havia realmente sido uma esposa formidável e então meu aluno contou ao pai o que a mãe mais queria na vida. Segundo ele o pai ficou perplexo e não disse nada. No dia da festa, lá pelas tantas, o pai pediu silencio a todos os presentes e fez um discurso curto, porém emocionado, ao fim olhou nos olhos da mulher e disse que queria naquele momento que ela soubesse o quanto ele a amava e que o perdoasse por nunca haver dito. A mãe até hoje diz que podia ter morrido naquela hora porque havia conseguido o que mais queria.”

Nem preciso dizer que ao final da história estávamos todos com lágrimas nos olhos e ai o aluno que não quis responder no começo levantou, apertou a mão do que contou a história e agradeceu dizendo que com aquela história ele havia economizado anos de terapia. Pediu desculpas porque sairia da sala naquele momento pois estava muito abalado, mas antes de sair me disse:

– Teacher, eu agradeço a você por ter escolhido esse jogo hoje.
Amo você por isso.

E saiu e eu acabei a aula.

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