O brilhante e o opaco

O vaga-lume fazia voltas e voltas em torno de si mesmo, no encanto de seu próprio brilho. E, enquanto revoava pela escuridão da mata, de galho em galho dos arbustos, pensava com seus botões (luminosos):

— Sou todo uma esmeralda só, brilhante e viva. Deus, Todo-Poderoso, ao me fazer um inseto noturno e me dar essa luz, evidentemente quis que eu fosse superior a todos os outros insetos, guia e Orientador da mata.

E voava e voava e brilhava e brilhava e pensava e pensava:

— Haverá, em toda a mata, outro como eu? Pois dentro do verde que pisco ainda há outro mistério: ninguém sabe se apago-e-acendo ou se acendo-e-apago.

Voava mais e, descrevendo frases de luz por entre as flores, mais se envaidecia na comparação com os outros habitantes da floresta:

— Pobres irmãos inferiores, eu vim para protegê-los das trevas. Vocês, grilos de asas cinzentas e sem brilho, formigas que trabalham e suam sem um instante de luz e fulgor, mariposas que por serem sem brilho, míseras lagartas imitadores de acordeões sem som.
Aranhas destinadas a serem feias tecelãs de sedas que jamais verão prontas, cupins que perdem as asas e ficam tontos até morrer, Para vocês todos, aqui está minha luz verde. Imitem-me os que puderem, sigam meu brilho maravilhoso os que estiverem perdidos nos caminhos.
E voou mais alto e se comparou às estrelas:
Sou uma de vocês, irmãs! Pisco no céu, como vocês! Faço parte da constelação da selva.

Foi descendo de novo quando, súbito sentiu uma puxada de ar que o envolvia, algo pegajoso que o segurava e logo estava fechado numa atmosfera nojenta e escorregadia. Sua luz iluminou um pouco a escuridão intensa e ele viu, em volta, centenas de insetos, apertados uns contra os outros, num cubículo úmido e sujo.

Uma lesma sonolenta, levantou a cabeça e gritou com voz rouca e irritada:
Se não fosse você, com essa mania de iluminação noturna, o sapo-boi jamais teria nos engolido no escuro. Vamos, alguma ideia para nos tirar daqui agora?

O mais importante não é mostrar para os outros as suas qualidades, e sim, saber utilizá-las em benefício de um bem comum.

O momento mais perigoso da vida de uma pessoa é exatamente quando ela se mostra segura demais. Humildade é uma virtude que deve ser praticada 24 horas por dia, sete dias por semana.

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