Culpa

Sentimento de culpa por ter errado? Isto tem solução

Importa distinguir o erro repetido e estagnado, do erro cometido em busca do acerto, do aprimoramento, a partir do qual se desenvolve um processo de crescimento

Observar a atividade das crianças pode ser muito instrutivo. Vendo uma criança pequena começando a andar, facilmente percebemos que o aprendizado dela só se torna possível à custa de muitas quedas, um tombo atrás do outro. É estimulante ver como a criança insiste e luta para, aos poucos, ganhar firmeza nas pernas e conquistar equilíbrio no corpo até dominar o processo de poder se deslocar com independência de um lugar para o outro.

Deste exemplo, aprendemos o quanto é inevitável passar por desacertos e erros, para finalmente conseguir agir corretamente. E esta constatação é verdadeira para a maior parte dos aprendizados que desenvolvemos durante nossa vida, aprendemos errando e errando conseguimos acertar. Errar é indispensável e suportar os erros uma atitude saudável, que nos ajuda em nosso desenvolvimento.

Lamentavelmente, a educação tradicional, que ainda vigora em boa parte das escolas de nosso país, tende a tratar os erros de uma forma muito negativa. Erros costumam ser punidos, esforços malsucedidos tendem a ser desvalorizados e as notas baixas aguardam os alunos que não conseguem um bom desempenho em suas tentativas.

O empenho e o esforço só são premiados quando atingem o sucesso e geralmente não são valorizados por eles próprios. Como consequência desta atitude educacional, desde muito cedo somos incentivados a evitar errar e a ter uma postura negativa em relação a erros cometidos, tanto por nós como pelos outros. Isto leva muitas pessoas a ficarem paralisadas em seus processos de crescimento pelo receio do julgamento que vão receber e da rejeição de que poderão ser vítimas caso cometam erros. Acabam por preferir nada fazer para não arriscar errar e se tornam adeptos de um imobilismo que, quando não impede, pelo menos dificulta bastante o progresso. Correm o risco de fazer parte do time que termina invicto o campeonato por não ter disputado uma única partida.

Para se mudar esta situação, o melhor instrumento de que dispomos é a tolerância, que nos é ensinada pelo amor. Através dela aprende-se a lidar com os erros. Quando aceitamos a idéia de desenvolver uma capacidade para tolerar os erros percebemos que esta atitude reforça a autoestima, a qual, por sua vez, contribui para uma melhor tolerância, gerando um círculo virtuoso que melhora a relação de cada um consigo mesmo.

Nesta relação, é de crucial importância o entendimento de que precisamos nos dar todas as oportunidades para tentar e experimentar, mesmo errando, e insistir em nossas tentativas e experiências enquanto for razoável acreditar nas possibilidades de se chegar ao sucesso. Esta é uma das chaves da autoestima, pois o amor próprio se revigora nos momentos em que nos permitimos o esforço das tentativas, da busca, do aprendizado.

Vale a pena ressalvar uma crucial diferença entre a generosidade do perdão e a displicência vazia de uma complacência que tudo aceita sem nada questionar. Importa distinguir o erro repetido e estagnado, do erro cometido em busca do acerto, do aprimoramento, a partir do qual se desenvolve um processo de crescimento. Assim, quando por detrás do erro está o empenho e a procura, deve haver uma margem de aceitação dele, de tolerância para com suas consequências negativas, pois daí pode advir o mais positivo de todos os resultados – a evolução, mola fundamental do processo de vida. Este tipo de erro precisa ser bem recebido pois, no longo prazo, dele resulta o bem.

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